sábado, 11 de setembro de 2010

A Semana de Arte Moderna 1922


O EVENTO Realizada no Teatro Municipal de São Paulo nos dias 13, 15 e 17 de fevereiro de 1922, a Semana de Arte Moderna organizada por Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Menotti del Picchia, Manuel Bandeira, Tarsila do Amaral, Villa-Lobos e outros, marca o advento do modernismo brasileiro e é o ponto de encontro das várias tendências modernas que vinham, desde a Primeira Guerra Mundial (1914-18), se firmando em São Paulo e no Rio de Janeiro. Também foi um acontecimento que acabou, com o passar do tempo, consolidando certos grupos e suas idéias, os quais passaram a possuir um espaço cativo em livros, revistas e manifestos. Essas idéias, porém, só seriam completamente aceitas depois de alguns anos, quando chegaram a outros Estados brasileiros. Em Minas Gerais, foi acolhida por artistas como Carlos Drummond de Andrade, Pedro Nava, Emílio Moura, Abgar Renault e João Alphonsus. No Rio Grande do Sul, Mário Quintana, Augusto Meyer, Pedro Vergara e Guilhermino César acabariam aderindo às idéias modernistas. E também no Nordeste, onde surtiu efeito nas obras de José Américo de Almeida, Jorge de Lima e outros. Tarsila, Abaporu O Modernismo Brasileiro é um movimento de amplo espectro cultural, desencadeado tardiamente nos anos 20, nele convergindo elementos das vanguardas acontecidas na Europa antes da Primeira Guerra Mundial - Expressionismo, Cubismo e Futurismo - assimiladas antropofagicamente em fragmentos justapostos e misturados. A predominância de valores expressionistas presentes nas obras de precursores como Lasar Segall e Anita Malfatti e no avançar do nosso Modernismo, a convergência de elementos que sinalizam a emergência do surrealismo que estão na pintura de Ismael Nery e de Tarsila do Amaral na sua fase mais radical da antropofagia, além de Vicente do Rêgo Monteiro. É interessante observar que a disciplina e a ordem da composição cubista constituem estrutura básica das obras de Tarsila, Antonio Gomide e Di Cavalcanti. No avançar dos anos 20, a pintura dos modernistas brasileiros vai misturar ao revival das artes egípcia, pré colombiana e vietnamita, elementos do Art Déco. São Paulo se caracteriza como o centro das idéias modernistas, onde se encontra o fermento do novo. Do encontro de jovens intelectuais com artistas plásticos eclodirá a vanguarda modernista. Diferentemente do Rio de Janeiro, reduto da burguesia tradicionalista e conservadora, São Paulo, incentivado pelo progresso e pelo afluxo de imigrantes italianos, será o cenário propício para o desenvolvimento do processo do Modernismo. Este processo teve eventos como a primeira exposição de arte moderna com obras expressionistas de Lasar Segall em 1913, o escândalo provocado pela exposição de Anita Malfatti entre dezembro de 1917 e janeiro de 1918 e a ‘descoberta’ do escultor Victor Brecheret em 1920. Com maior ou menor peso, estes três artistas constituem, no período heróico do Modernismo Brasileiro, os antecedentes da Semana de 22. A Semana de Arte Moderna de 22 é o ápice deste processo que visava atualização das artes, e a sua identidade nacional. Pensada por Di Cavalcanti como um evento que causasse impacto e escândalo, esta Semana proporcionaria as bases teóricas que contribuirão muito para o desenvolvimento artístico e intelectual da Primeira Geração Modernista e o seu encaminhamento, nos anos 30 e 40, na fase da Modernidade Brasileira.Vicente do Rego Monteiro, A mulher ANTECEDENTES DA SEMANA
Para se entender o processo do movimento modernista brasileiro é necessário olhar para o contexto das duas primeiras décadas do século: ainda muito presos ao academicismo e às influências francesas da belle époque, alguns jovens de São Paulo, intelectuais e artistas começam a sentir a necessidade de uma atualização das artes, ao mesmo tempo que uma busca de identidade nacional, através do retorno às raízes culturais do país. Estes anseios de modernização e de nacionalismo são desencadeados pela Primeira Guerra e pela proximidade dos festejos do primeiro centenário da Independência. As informações fragmentadas sobre as vanguardas vindas da Europa vão confluir com esta necessidade de renovação. Alguns eventos e exposições marcam este período e antecedem a eclosão do Modernismo Brasileiro, com a Semana de Arte Moderna de 1922. A exposição de Lasar Segall, em 1913, apesar de não causar muita repercussão, vai sinalizar contatos com as vanguardas alemãs. Entretanto, será a exposição de Anita Malfatti, em 1917, que instiga os artistas e jovens intelectuais a se organizar como grupo e promover a arte moderna nacional, que terá lugar em São Paulo, embalado pelo progresso e industrialização acelerada, contando ainda com a presença maciça de imigrantes italianos- o que acaba facilitando a ausência de uma tradição burguesa e conservadora como a existente no Rio de Janeiro. Em 1920, o grupo de jovens paulistas, já denominados futuristas descobre Victor Brecheret, recém chegado de Roma. Sua escultura pós-Rodin, as estilizações das figuras monumentais e o vigor e expressividade das tensões musculares, alongamentos e torções das esculturas causam grande impacto e, de imediato, o grupo polariza-se em torno do escultor. A partir daí sentiu-se a necessidade de um evento de magnitude e acompanhado de escândalo que marcasse estas novas direções da arte, trazidas pelos incidentes com Anita e pelo ingresso de Brecheret ao grupo - este evento será a Semana de Arte Moderna de 22.
1912 - Oswald chega ao Brasil trazendo da Europa o conhecimento de novas formas de expressão artística, como as de Paul Fort e as sugeridas pelo "Manifesto Futurista" do poeta italiano Marinetti. Surgem as primeiras colagens de Braque e Picasso, possíveis origens do cubismo.
1913 - Exposição do pintor Lasar Segall em Campinas (São Paulo).

/a>Lasar Segall, A Família Lasar Segall, Mercadores
Lasar Segall, perfil de Zulmira 1913 - Wassily Kandinsky: Composition Vi
obra de Kandinsky 1914 - O francês Marcel Duchamp lança os ready-mades.obra de Duchamp 1915 - O poeta Ronald de Carvalho participa no Rio da fundação
da revista "Orfeu", dirigida em Portugal por Fernando Pessoa
e Mário de Sá-Carneiro.Anita Malfati, A boba Anita Malfati, O homem amarelo Anita Malfati, O farol
1917 - Exposição de Anita Malfatti. O escritor Monteiro Lobato escreve o artigo "Paranóia ou Mistificação?", onde critica vigorosamente as inovações na pintura de Anita e se envolve em uma polêmica com os principais artistas do movimento modernista.
O que é ser Moderno?
Tarsila, Antropofagia Tarsila, A gare Poucos conceitos serão tão vagos em arte quanto "moderno" ou este outro que costuma tomar seu lugar, "modernismo", uma vez que tudo que é moderno está condenado a deixar de sê-lo, arrastando depois atrás de si apenas essa sombra ainda mais difusa que se identifica pelo sufixo -ismo. Várias coisas e idéias são ou foram modernas conforme o lugar e a época em que se produziram. E freqüentemente, aquilo que é ou foi moderno aqui e agora tem pouco ou nada em comum com o que é ou foi moderno num outro lugar embora neste mesmo agora. Em outras palavras, as noções de tempo e de contemporaneidade, que parecem essenciais à idéia de moderno, não bastam para assegurar a esse fenômeno uma identidade fixa, que permita seu reconhecimento imediato tão logo se coloque sob os olhos de um observador. O moderno é de fato uma festa móvel, que se comemora e se brinca (uma festa é para se brincar, mais do que para se comemorar) sempre em datas diferentes em lugares diferentes e com roupas diferentes. Talvez sob essas festas móveis se encontre uma mesma estrutura e um mesmo desejo, feitos da vontade de deixar de lado (tanto quanto possível) aquilo que se fazia e partir em busca de uma aventura que permita olhar de outro modo aquilo que, não raro, continua a ser a mesma coisa. É que não importa que a coisa seja a mesma; importa é vê-la de outro modo. Assim é que numa mesma data ou quase (dois ou dez anos de diferença não são nada de decisivo para a arte) e às vezes num mesmo lugar (a Europa: quando vista pelos olhos continentais do Brasil, a Europa pode ser vista como um mesmo lugar, apesar das distinções locais), o que é moderno surge sob máscaras bem distintas.[...]
Antonio Gomide, Figuras
Tarsila, A negra
Tarsila, O vendedor Tarsila, Mamoeiro
Kandinsky, Autumn in Bavaria Kandinsky A SEMANA Um dos principais eventos da história da arte no Brasil, a Semana de 22, foi o ponto alto da insatisfação com a cultura vigente, submetida a modelos importados, e a reafirmação de busca de uma arte verdadeiramente brasileira, marcando a emergência do Modernismo Brasileiro. A partir do começo do século XX, era perceptível uma inquietação por parte de artistas e intelectuais em relação ao academicismo que imperava no cenário artístico. Apesar de vários artistas passarem temporadas em Paris, eles ainda não traziam as informações dos movimentos de vanguarda que efervesciam na Europa. As primeiras exposições expressionistas que passaram pelo Brasil - a de Lasar Segall em 1913 e, um ano depois a de Anita Malfatti - não despertaram atenção; é somente em 1917, com a segunda exposição de Malfatti, ou mais ainda com a crítica que esta recebeu de Monteiro Lobato, que vai ocorrer uma polarização das idéias renovadoras. Através do empresário Paulo Prado e de Di Cavalcanti, o verdadeiro articulador, que imaginou uma semana de escândalos, organiza-se um evento que irá pregar a renovação da arte e a temática nativista. Desta semana tomam parte pintores, escultores, literatos, arquitetos e intelectuais. Durante três dias - entre 13 e 17 de fevereiro - o Teatro Municipal de São Paulo foi tomado por sessões literárias e musicais no auditório, além da exposição de artes plásticas no saguão, com obras de Anita Malfatti, Di Cavalcanti, Victor Brecheret, Ferrignac, John Graz, Martins Ribeiro, Paim Vieira , Vicente do Rego Monteiro, Yan de Almeida Prado e Zina Aíta ( pintura e desenho ), Hildegardo Leão Velloso e Wilhem Haarberg ( escultura ). As manifestações causaram impacto e foram muito mal recebidas pela platéia formada pela elite paulista, o que na verdade contribuiria para abrir o debate e a difusão das novas idéias em âmbito nacional.Di Cavalcanti, Samba
Di Cavalcanti, Moças
programa da Semana
13.fev.1922 - A Semana de Arte Moderna é inaugurada no Teatro Municipal de São Paulo com palestra do escritor Graça Aranha, ilustrada por comentários musicais e poemas de Guilherme de Almeida. O primeiro dia corre sem tropeços. Depois da longa e erudita fala de Aranha, um conjunto de câmara ocupa o palco para executar obras de Villa-Lobos. Após o intervalo, Ronald de Carvalho discursa sobre pintura e escultura modernas. A platéia começa a se manifestar. Diante dos zurros do público, Ronald de Carvalho devolve: "Cada um fala com a voz que Deus lhe deu."
O "gran finale" surge na forma de um recital de música comandado pelo maestro Ernani Braga.
15.fev.1922 - A noite que celebrizou a semana começa com um discurso de Menotti del Picchia sobre romancistas contemporâneos, acompanhado por leitura de poesias e números de dança. É aplaudido. Mas, quando foi anunciado Oswald de Andrade, começaram as vaias e insultos na platéia, que só param quando sobe ao palco a aclamada pianista Guiomar Novaes.Menotti del Picchia, Paisagem
Heitor Villa-Lobos se apresenta no palco do Municipal apoiado em um guarda-chuva e calçando chinelos.
17.fev.1922 - A última noite da programação é totalmente dedicada à música de Villa-Lobos. As vaias continuam até que a maioria pede silêncio para ouvir Villa-Lobos. Os instrumentistas tentam executar as peças incluídas no programa apesar do barulho feito pelos espectadores e levam o recital até o fim.São Paulo, anos 20: Vale do Anhangabaú com o Teatro Municipal ao centro Logo após os barulhentos espetáculos do Teatro Municipal, é lançada a revista "Klaxon", que divulga as produções da nova escola. Calcados no êxito conseguido com as agitadas noites de fevereiro, os jovens artistas conseguem espaço e estímulo para, ainda em 1922, dar continuidade ao seu trabalho.
Mário de Andrade lança "Paulicéia Desvairada", o livro de poesias no qual todos os procedimentos poéticos mais arrojados eram expostos e reunidos pela primeira vez. Oswald de Andrade lança "Os Condenados".Tarsila do Amaral, Operários
Caracterizada por uma oposição entre o projeto formal inovador e a proposta de resgatar elementos da cultura tradicional, a primeira geração de modernistas desenvolve uma arte experimental, de acordo com o projeto fixado por Mário de Andrade na Semana de Arte Moderna de 22. A produção destes iniciadores da arte moderna no Brasil concilia uma linguagem importada das vanguardas modernistas européias, com um conteúdo nativista que resgata as raízes culturais brasileiras. Nos anos 20, estes modernistas conviveram de perto com a arte européia. Paris, como centro de produção artística, definiu os novos rumos da arte brasileira, influenciando toda essa geração de artistas. Antes mesmo de 22, Victor Brecheret e Vicente do Rego Monteiro vão para a capital francesa para se aprofundarem na pintura moderna. Logo depois da Semana de Arte Moderna é a vez de Tarsila do Amaral ir a Paris. Outros artistas passam a seguir o mesmo rumo, buscando concretizar o projeto modernista. É o que acontece com Di Cavalcanti e Anita Malfatti, em 23, e com Antonio Gomide, em 24. Ismael Nery, que estivera na Europa no começo dos anos 20, volta a capital francesa, em 27, procurando um estilo vanguardista. Junto com o pernambucano Cícero Dias, que revela seu talento precoce quando vai ao Rio de Janeiro, em 1927, estes artistas vão se consolidar como os grandes iniciadores da arte moderna brasileira. Nesta época, os centros artísticos no Brasil, além de escassos, privilegiavam uma arte acadêmica com contornos tradicionais, o que incentivava os artistas modernos a buscar alternativas de aprendizado independentes. Por isso, as escolas parisienses representavam mais do que um intercambio cultural: eram necessárias para qualquer tentativa de atualização. Estes artistas traziam para outros brasileiros as novidades de Paris, transmitindo novas linguagens vanguardistas. A absorção desta arte presente nos centros europeus une-se a elementos da nacionalidade brasileira, consolidando o projeto modernista. A partir de então, a arte moderna passa a trilhar novos rumos, distanciando-se, no entanto, daqueles estabelecidos na Semana de 22.
Os integrantes do movimento Modernista de São Paulo

Ren Thiollier (1) Manuel Bandeira (2) Mário de Andrade (3)
Manoel Vilaboin (4) Francesco Pettinati (5) Cândido Motta Filho (6)
Paulo Prado (7) Não identificado (8) Graça Aranha (9) Afonso Schmidt (10)
Goffredo da Silva Telles (11) Couto de Barros (12) Tácito de Almeida (13)
Luís Aranha (14) Oswald de Andrade(15) Rubens Borba de Moraes (16) NEM TUDO ERA ACADÊMICO ANTES DA SEMANA... O período da arte brasileira que vai de 1900 a 1922, ano da Semana de Arte Moderna
de São Paulo, é em geral considerado pobre e retrógrado. Teria sido vastamente
dominado pelo academicismo, por um estilo preso a convenções antigas.
Para o curador do primeiro módulo da "Bienal Brasil Século 20", o professor
da Unicamp José Roberto Teixeira Leite, não é bem assim.
Leite admite que nessa etapa a arte brasileira era, na maior parte, bastante
desinformada dos movimentos que davam luz ao modernismo
na Europa da primeira década do século — como o cubismo e o dadaísmo.
Era bastante comum no Brasil uma pintura clássica, em que o
desenho era fundamental, com temas ou mitológicos ou históricos, e a noção
de perspectiva consagrada desde o Renascimento.
Mas, segundo Leite, também foi significativa a chegada do impressionismo
e do neo-impressionismo, movimentos da segunda metade do século 19
europeu, ao Brasil dos anos 1900.
Sua forma de apreensão foi diferente da acadêmica. Os impressionistas brasileiros
não se limitaram a copiar o modelo europeu ou a adaptá-lo a uma temática regional.
"Eles ensaiaram uma certa autonomia, ainda que nem todos tenham entendido bem o que eram o impressionismo e o neo-impressionismo", diz.
O caso de que Leite partiu em sua curadoria é o de Victor Meirelles (1832-1903). Pintor acadêmico de renome, Meirelles reformulou sua estética no fim da vida. Ele cita como exemplo a tela "Panorama do Descobrimento do Brasil", de 1899, que está na exposição.
"Ele fez um panorama de 38 centímetros de altura e quatro metros de largura, onde o assunto, a missa, ocupa apenas um pequeno espaço ao centro." Ou seja, fez uma grande mudança na hierarquia dos elementos em sua obra.
Outro caso curioso que Leite aponta é o de Henrique Cavalleiro (1892-1975). Impressionista, depois neo-impressionista, Cavalleiro foi morar em Paris em 1920 e ficou até 1924.
Lá, tomou contato com a obra de Cézanne e dos fauvistas . Quando voltou ao Brasil em 1925, começou a pintar de uma maneira aproximada à de Cézanne, em que a organização do espaço na tela tem papel fundamental.
Quanto ao fauvismo, Leite diz que um brasileiro que sofreu as influências do estilo foi Navarro da Costa. "Mas, como no caso de Cavalleiro, é uma adoção tímida e atrasada de um estilo europeu."
Mais peculiar ainda, para o curador, é a figura de Helios Seelinger (1878-1965),
que conviveu na Alemanha com a primeira geração expressionista e foi colega
de alguns dos mais importantes artistas modernos: Kandinsky e Paul Klee.
No entanto, o máximo a que Seelinger chegou foi um misto de "art nouveau"
(estilo decorativo e romântico que foi moda na Europa entre 1880 e 1925)
e expressionismo. A combinação, considerada moderna demais, provocou reações
furiosas da crítica brasileira do início do século.
Leite diz que o período 1900-1920 da arte brasileira ainda é pouco estudado. Artistas
como Alvim Correa, Ivan da Silva Bruhns e os citados fizeram ensaios de modernidade
que não casam com a visão do período como um bloco de acadêmicos.
O mais importante deles, para Leite, foi Eliseu Visconti (1866-1944), o primeiro pintor impressionista brasileiro. "Ele foi também um dos primeiros a abraçar o simbolismo e a aplicar a técnica 'art nouveau' aqui", afirma. Leite diz que existem alguns pontos obscuros sobre a estada de Visconti na França, entre 1893 a 1900. "Segundo Cavalleiro, ele teria conhecido Gauguin, mas eu duvido disso."
Independente de pesquisas que venham a provar a relação do pintor brasileiro
com Gauguin, o curador acha que foi Visconti quem deu o primeiro passo
na tentativa de uma arte brasileira autônoma. "Ali houve uma clara mudança de voz.
Ele era um grande artista."
Os esforços modernistas não foram exclusivos às artes plásticas. Eles surgiram
na literatura e, sobretudo, na música.
"Não se deve atribuir a iniciativa de repensar o Brasil à Semana de 1922. Ela começou antes".
Revistas e Manifestos As principais revistas de vanguarda paulistas foram Klaxon (1922), que contava com a colaboração de Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Sérgio Milliet e Manuel Bandeira, e Revista de Antropofagia (1928), dirigida na primeira fase por Antônio de Alcântara Machado e na segunda por Geraldo Ferraz.
KLAXON: Mensário de Arte Moderna (1922)
Significação.
A lucta começou de verdade em principios de 1921 pelas columnas do 'Jornal do Commercio' e do 'Correio Paulistano'. Primeiro resultado" 'Semana de Arte Moderna' - especie de Conselho Internacional de Versalhes. Como este, a Semana teve sua razão de ser. Como elle: nem desastre, nem triumpho. Como elle: deu fructos verdes. Houve erros proclamados em voz alta. Pregaram-se ideias inadmissiveis. E' preciso reflectir. E' preciso esclarecer. E' preciso construir. D'ahi, KLAXON.
E KLAXON não se queixará jamais de ser incomprehendido pelo Brasil. O Brasil é que deverá se esforçar para comprehender KLAXON.
Esthetica
KLAXON sabe que a vida existe. E, aconselhado por Pascal, visa o presente. KLAXON não se preocupará de ser novo, mas de ser actual. Essa é a grande lei da novidade.
KLAXON sabe que a humanidade existe. Por isso é internacionalista. O que não impede que, pela integridade da patria, KLAXON morra e seus membros brasileiros morram.
KLAXON sabe que a natureza existe. Mas sabe que o moto lyrico, productor da obra de arte, é uma lente transformadora e mesmo deformadora da natureza.
KLAXON sabe que o progresso existe. Por isso, sem renegar o passado, caminha para deante, sempre, sempre. O campanile de São Marco era uma obra prima. Devia ser conservado. Cahiu. Reconstruil-o foi uma erronia sentimental e dispendiosa - o que berra deante das necessidades contemporaneas.
KLAXON sabe que o laboratorio existe. Por isso quer dar leis scientificas à arte; leis sobretudo baseadas nos progressos da psychologia experimental. Abaixo os preconceitos artisticos! Liberdade! Mas liberdade embridade pela observação.
KLAXON sabe que o cinematographo existe. Perola White é preferivel a Sarah Bernhardt. Sarah é tragedia, romantismo sentimental e technico. Perola é raciocinio, instrucção, esporte, rapidez, alegria, vida. Sarah Bernhardt = seculo 19. Perola White = seculo 20. A cinematographia é a criação artistica mais representativa da nossa epoca. E' preciso observar-lhe a lição.
KLAXON não é exclusivista. Apezar disso jamais publicará ineditos maus de bons escriptores já mortos.
KLAXON não é futurista.
KLAXON é klaxista.
Cartaz
KLAXON cogita principalmente de arte. Mas quer representar a epoca de 1920 em diante. Por isso é polymorpho, omnipresente, inquieto, comico, irritante, contraditorio, invejado, insultado, feliz.
KLAXON procura: achará. Bate: a porta se abrirá. Klaxon não derruba campanile algum. Mas não reconstruirá o que ruir. Antes aproveitará o terreno para solidos, hygienicos, altivos edificios de cimento armado.
KLAXON tem uma alma collectiva que se caracterisa pelo impeto constructivo. Mas cada engenheiro se utilizará dos materiaes que lhe convierem. Isto significa que os escriptores de KLAXON responderão apenas pelas idéias que assignarem.
Problema
Seculo 19 - Romantismo, Torre de Marfim, Symbolismo. Em seguida o fogo de artificio internacional de 1914. Ha perto de 130 annos que a humanidade está fazendo manha. A revolta é justissima. Queremos construir a alegria. A propria farça, o burlesco não nos repugna, como não repugnou a Dante, a Shakespeare, a Cervantes. Molhados, resfriados, rheumatisados por uma tradição de lagrimas artisticas, decidimo-nos. Operação cirurgica. Extirpação das glandulas lacrimaes. Era dos 8 Batutas, do Jazz-Band, de Chicarrão, de Carlito, de Mutt & Jeff. Era do riso e da sinceridade. Era de construcção. Era de KLAXON. A REDACÇÃO (publicado na Revista Klaxon (São Paulo), n. 1, Maio, 1922)
No Rio de Janeiro, havia Estética (1924), dirigida por Prudente de Morais Neto e Sérgio Buarque de Holanda, e Festa (1927), organizada por Tasso da Silveira e Andrade Murici, com a colaboração de Cecília Meireles.
Mas havia também outras publicações regionais, como A Revista (Belo Horizonte, 1925), Verde (Cataguases, 1927), Arco e Flexa (Bahia, 1928), Maracajá (Fortaleza, 1929) e Madrugada (Porto Alegre, 1929).
Os principais manifestos modernistas foram publicados nas revistas porta-vozes dos diferentes grupos.
Foi este o caso do "Manifesto antropófago", de Oswald de Andrade, publicado na Revista de Antropofagia em maio de 1928, e do "Manifesto de Cataguases", publicado em Verde em novembro de 1927.
A Revista de Antropofagia, da mesma forma que a revista Klaxon, foi um desdobramento ou conseqüência da Semana de Arte Moderna. Surgiu em São Paulo em maio de 1928 e terminou em agosto de 1929. O Manifesto Antropófago de Oswald de Andrade foi publicado na Revista que teve dois momentos distintos ou duas dentições. A primeira, de maio de 1928 a fevereiro de 1929, caracterizou-se por uma acentuada irreverência e por uma consciência ingênua do modernismo semelhante à da revista Klaxon. Neste primeiro período, era uma publicação de oito páginas. Na segunda dentição, limitada a uma página no Diário de São Paulo entre março e agosto de 1929, a antropofagia assume contornos mais definidos. Defende a devoração das técnicas, informações e elementos culturais dos países subdesenvolvidos para reelaborá-los, convertendo-os em produtos de exportação.
Manifesto Antropófago
Só a antropofagia nos une. Socialmente. Economicamente. Filosoficamente.
Única lei do mundo. Expressão mascarada de todos os individualismos, de todos os coletivismos. De todas as religiões. De todos os tratados de paz.
Tupy, or not tupy that is the question.
Contra todas as catequeses. E contra a mãe dos Gracos.
Só me interessa o que não é meu. Lei do homem. Lei do antropófago.
Estamos fatigados de todos os maridos católicos suspeitosos postos em drama. Freud acabou com o enigma mulher e com outros sustos da psicologia impressa.
O que atrapalhava a verdade era a roupa, o impermeável entre o mundo interior e o mundo exterior. A reação contra o homem vestido.
O cinema americano informará.
Filhos do sol, mãe dos viventes. Encontrados e amados ferozmente, com toda a hipocrisia da saudade, pelos imigrados, pelos traficados e pelos touristes. No país da cobra grande.
Foi porque nunca tivemos gramáticas, nem coleções de velhos vegetais. E nunca soubemos o que era urbano, suburbano, fronteiriço e continental. Preguiçosos no mapa-múndi do Brasil.
Uma consciência participante, uma rítmica religiosa.
Contra todos os importadores de consciência enlatada. A existência palpável da vida.
E a mentalidade prelógica para o Sr. Levi Bruhl estudar.
Queremos a revolução Caraíba. Maior que a Revolução Francesa. A unificação de todas as revoltas eficazes na direção do homem. Sem nós a Europa não teria sequer a sua pobre declaração dos direitos do homem.
A idade do ouro anunciada pela América. A idade de ouro. E todas as girls.
Filiação. O contato com o Brasil Caraíba. Oú Villegaignon print terre. Montaigne. O homem natural. Rousseau. Da Revolução Francesa ao Romantismo, à Revolução Bolchevista, à Revolução surrealista e ao bárbaro tecnizado de Keyserling. Caminhamos.
Nunca fomos catequizados. Vivemos através de um direito sonâmbulo. Fizemos Cristo nascer na Bahia. Ou em Belém do Pará.
Mas nunca admitimos o nascimento da lógica entre nós.
Contra o Padre Vieira. Autor do nosso primeiro empréstimo, para ganhar comissão. O rei analfabeto dissera-lhe: ponha isso no papel mas sem muita lábia. Fez-se o empréstimo. Gravou-se o açúcar brasileiro. Vieira deixou o dinheiro em Portugal e nos trouxe a lábia.
O espírito recusa-se a conceber o espírito sem corpo. O antropomorfismo. Necessidade da vacina antropofágica. Para o equilíbrio contra as religiões de meridiano. E as inquisições exteriores.
Só podemos atender ao mundo orecular.
Tínhamos a justiça codificação da vingança. A ciência codificação da Magia. Antropofagia. A transformação permanente do Tabu em totem.
Contra o mundo reversível e as idéias objetivadas. Cadaverizadas. O stop do pensamento que é dinâmico. O indivíduo vítima do sistema. Fonte das injustiças clássicas. Das injustiças românticas. E o esquecimento das conquistas interiores.
Roteiros. Roteiros. Roteiros. Roteiros. Roteiros. Roteiros. Roteiros.
O instinto Caraíba.
Morte e vida das hipóteses. Da equação eu parte do Kosmos ao axioma Kosmos parte do eu. Subsistência. Conhecimento. Antropofagia.
Contra as elites vegetais. Em comunicação com o solo.
Nunca fomos catequizados. Fizemos foi Carnaval. O índio vestido de Senador do Império. Fingindo de Pitt. Ou figurando nas óperas de Alencar cheio de bons sentimentos portugueses.
Já tínhamos o comunismo. Já tínhamos a língua surrealista. A idade de ouro.
Catiti Catiti Imara Notiá Notiá Imara Ipejú.
A magia e a vida. Tínhamos a relação e a distribuição dos bens físicos, dos bens morais, dos bens dignários. E sabíamos transpor o mistério e a morte com o auxílio de algumas formas gramaticais.
Perguntei a um homem o que era o Direito. Ele me respondeu que era a garantia do exercício da possibilidade. Esse homem chamava-se Galli Matias. Comi-o.
Só não há determinismo, onde há mistério. Mas que temos nós com isso?
Contra as histórias do homem, que começam no Cabo Finisterra. O mundo não datado. Não rubricado. Sem Napoleão. Sem César.
A fixação do progresso por meio de catálogos e aparelhos de televisão. Só a maquinaria. E os transfusores de sangue.
Contra as sublimações antagônicas. Trazidas nas caravelas.
Contra a verdade dos povos missionários, definida pela sagacidade de um antropófago, o Visconde de Cairu:-É a mentira muitas vezes repetida.
Mas não foram cruzados que vieram. Foram fugitivos de uma civilização que estamos comendo, porque somos fortes e vingativos como o Jabuti.
Se Deus é a consciência do Universo Incriado, Guaraci é a mãe dos viventes. Jaci é a mãe dos vegetais.
Não tivemos especulação. Mas tínhamos adivinhação. Tínhamos Política que é a ciência da distribuição. E um sistema social-planetário.
As migrações. A fuga dos estados tediosos. Contra as escleroses urbanas. Contra os Conservatórios, e o tédio especulativo.
De William James a Voronoff. A transfiguração do Tabu em totem. Antropofagia.
O pater famílias e a criação da Moral da Cegonha: Ignorância real das coisas + falta de imaginação + sentimento de autoridade ante a pro-curiosa (sic).
É preciso partir de um profundo ateísmo para se chegar à idéia de Deus. Mas o caraíba não precisava. Porque tinha Guaraci.
O objetivo criado reage como os Anjos da Queda. Depois Moisés divaga. Que temos nós com isso?
Antes dos portugueses descobrirem o Brasil, o Brasil tinha descoberto a felicidade.
Contra o índio de tocheiro. O índio filho de Maria, afilhado de Catarina de Médicis e genro de D. Antônio de Mariz.
A alegria é a prova dos nove.
No matriarcado de Pindorama.
Contra a Memória fonte do costume. A experiência pessoal renovada.
Somos concretistas. As idéias tomam conta, reagem, queimam gente nas praças públicas. Suprimamos as idéias e as outras paralisias. Pelos roteiros. Acreditar nos sinais, acreditar nos instrumentos e nas estrelas.
Contra Goethe, a mãe dos Gracos, e a Corte de D. João VI.
A alegria é a prova dos nove.
A luta entre o que se chamaria Incriado e a Criatura-ilustrada pela contradição permanente do homem e o seu Tabu. O amor quotidiano e o modus vivendi capitalista. Antropofagia. Absorção do inimigo sacro. Para transformá-lo em totem. A humana aventura. A terrena finalidade. Porém, só as puras elites conseguiram realizar a antropofagia carnal, que traz em si o mais alto sentido da vida e evita todos os males identificados por Freud, males catequistas. O que se dá não é uma sublimação do instinto sexual. É a escala termométrica do instinto antropofágico. De carnal, ele se torna eletivo e cria a amizade. Afetivo, o amor. Especulativo, a ciência.
Desvia-se e transfere-se. Chegamos ao aviltamento. A baixa antropofagia
aglomerada nos pecados do catecismo-a inveja, a usura, a calúnia, o assassinato. Peste dos chamados povos cultos e cristianizados, é contra ela que estamos agindo. Antropófagos.
Contra Anchieta cantando as onze mil virgens do céu, na terra de Iracema-o patriarca João Ramalho fundador de São Paulo.
A nossa independência ainda não foi proclamada. Frase típica de D. João VI:-Meu filho, põe essa coroa na tua cabeça, antes que algum aventureiro o faça! Expulsamos a dinastia. É preciso expulsar o espírito bragantino, as ordenações e o rapé de Maria da Fonte.
Contra a realidade social, vestida e opressora, cadastrada por Freud-a realidade sem complexos, sem loucura, sem prostituições e sem penitenciárias do matriarcado de Pindorama.
Oswald de Andrade
Em Piratininga
Ano 374 da deglutição do Bispo Sardinha.
Revista de Antropofagia (São Paulo), n.1, ano 1, maio de 1928. Houve ainda um "Manifesto regionalista", esboçado no 1º Congresso Regionalista do Nordeste, realizado em Recife em 1926.
Já Candido Mota Filho assumiu a direção do DEIP (Departamento Estadual de Imprensa e Propaganda) de São Paulo. A trajetória desse grupo ao longo de três décadas revela os
vínculos que existiram entre a idelogia autoritária do Estado Novo e a do modernismo.
Verde-Amarelos Grupo composto pelos paulistas Plínio Salgado, Cassiano Ricardo, Menotti del Picchia, Cândido Mota Filho e Alfredo Élis. Ao longo da década de 1920, os verde-amarelos formaram a vertente conservadora do movimento modernista. Para eles, o ingresso do Brasil na modernidade implicava o rompimento radical com toda herança cultural européia. Seu lema era taxativo: "Originalidade ou Morte!" o projeto cultural dos verde-amarelos tinha também sua contrapartida política: o autoritarismo aparecia como condição imprescindível para a independência cultural e política do país. Era através do jornal Correio Paulistano que o grupo defendia as suas idéias. Em 1927, esses artigos foram reunidos em uma coletânea com o título O Curupira e o Carão. Em maio de 1929, o grupo publicou o manifesto Nhengaçu Verde Amarelo, em que defendia a integração étnico-cultural sob o domínio da colonização portuguesa, o nacionalismo sentimental e o predomínio das instituições conservadoras.
Na década de 1930, o grupo se bifurcou em dois movimentos distintos: o integralismo e o bandeirismo. Rompendo com o grupo de origem, Plínio Salgado fundou em 1932 a Ação Integralista Brasileira. Liderado por Cassiano Ricardo, o bandeirismo reuniu o restante do grupo, que recebeu ainda o apoio de mais alguns intelectuais paulistas. O movimento tinha como proposta o fortalecimento do Estado, posicionando-se contra o comunismo e o fascismo. Era preciso defender as fronteiras geográficas e culturais do país, evitando a penetração de ideologias consideradas "alienígenas".
Ao longo da década de 1940, Cassiano Ricardo, Menotti del Picchia e Candido Mota Filho iriam tornar-se, em diferentes graus, ideólogos do Estado Novo, escrevendo artigos na imprensa diária em que defendiam as bases doutrinárias do regime. Cassiano Ricardo assumiu a direção do jornal A Manhã, porta-voz do regime, e a chefia do departamento político-cultural da Rádio Nacional. Já Candido Mota Filho assumiu a direção do DEIP (Departamento Estadual de Imprensa e Propaganda) de São Paulo. A trajetória desse grupo ao longo de três décadas revela os vínculos que existiram entre a ideologia autoritária do Estado Novo e a do modernismo. José Oswald de Souza Andrade nasceu em São Paulo, em 1890.
Jornalista e advogado, fundou a revista O Pirralho, em 1911, bacharelando-se pela Faculdade de Direito de São Paulo em 1919. Mais tarde, trabalhou para o Diário Popular, Correio Paulistano, Correio da Manhã, O Estado de São Paulo.
Participou ativamente da Semana de Arte Moderna de 1922, da qual foi um dos organizadores. Amigo de Mário de Andrade, formou com ele a dupla de maior expressão do movimento modernista. Posteriormente a 1922, desencadeou dois movimentos, o Pau-Brasil (1924/25) e o da Antropofagia (1928). O primeiro, utilizando elementos da vanguarda francesa, pregava a criação de uma poesia primitiva e nacionalista, fruto da união de uma cultura nativa com uma cultura intelectualizada. Sua proposta é a de unir a floresta e a escola. O segundo movimento questionava a estrutura política, econômica e cultural do país, entendida como uma herança deixada pela colonizador. Em maio de 1928, colocou em circulação o primeiro número da Revista de Antropofagia, primeira dentição.
Entre 1922 e 1934, publicou a Trilogia do exílio formada pelos romances Os condenados (1922), Estrela de absinto (1927) e A escada vermelha (1934). Paralelamente à sua intensa atividade literária, envolveu-se com o clima de radicalização política dominante no país após a Revolução de 1930, tendo ingressado no início da década no Partido Comunista Brasileiro, então Partido Comunista do Brasil (PCB). Nesse período, escreveu três peças de teatro: O homem e o cavalo (1934), A morta e O rei da vela (1937).
Adversário do integralismo, do nazi-facismo e da ditadura do Estado Novo (1937-1945), em 1940, através de uma carta-desafio, lançou-se candidato à Academia Brasileira de Letras (ABL), não sendo, contudo, eleito. Em 1945 participou do I Congresso Brasileiro de Escritores, rompendo com o PCB. Naquele mesmo ano obteve a livre-docência de literatura brasileira na cadeira de literatura brasileira na USP com a tese A crise da filosofia messiânica.
Faleceu em São Paulo em 1954.
Além das já citadas, devem ser mencionadas as seguintes obras de sua autoria: Pau-Brasil (1925), Memórias sentimentais de João Miramar (1927), Manifesto Antropófago (1928), Serafim Ponte Grande (1933), A revolução melancólica (1943), Ponta de lança, A Arcádia e a Inconfidência (1945) Chão (1946) e Sob as ordens de mamãe (1954). Tarsila do Amaral, 1 de setembro de 1886 - 17 de janeiro de 1973
"Quero ser a pintora da minha terra." Foi assim que Tarsila do Amaral definiu uma vez sua ambição nas artes do Brasil. E é assim que, hoje, o seu trabalho é reconhecido. Uma das principais artistas modernistas brasileiras, Tarsila do Amaral nasceu em 1º de setembro de 1886, em Capivari (São Paulo), no casarão da fazenda São Bernardo.
De tradicional e rica família de fazendeiros paulistas, filha de Lydia Dias do Amaral e José Estanislau do Amaral Filho, Tarsila estudou em São Paulo, no tradicional colégio Sion, e depois, em 1902, no colégio Sacré-Couer, em Barcelona (Espanha).
Em 1904, fez sua primeira viagem a Paris (França), cidade que seria fundamental na sua formação artística. Voltou ao Brasil em 1906 e se casou com André Teixeira Pinto, primo de sua mãe, com quem teve sua única filha, Dulce.
Tarsila começou seus estudos de pintura em 1917, com o acadêmico Pedro Alexandrino. Três anos depois, após estudar escultura, desenho e pintura com diversos artistas brasileiros, voltou à Europa com a filha. A menina ficou interna no Sacré-Couer de Londres (Inglaterra) e Tarsila fixou residência em Paris.
Lá, cursou a Academia Julian, tomou contato com as vanguardas européias e frequentou os ateliês dos cubistas André Lhote, Fernand Léger e Albert Gleizes. O primeiro casamento acabou nessa época, devido ao ciúme do marido. De volta ao Brasil, em junho de 1922, Tarsila manteve contato com Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Anita Malfatti e Menotti Del Picchia, com os quais formou o chamado "Grupo dos Cinco", grupo responsável pelo início do modernismo no país. No ano seguinte, casou-se com Oswald de Andrade.
Ainda em 1923, pintou o quadro "A Negra", que se aproximava do cubismo e era considerada a primeira manifestação do que viria a ser o movimento Pau-Brasil. Voltou a Paris e frequentou com Oswald o circuito artístico local, mas convenceu mais por sua beleza que por sua arte. "Bem curiosa essa belíssima fêmea brasileira que pretende pintar negros monstruosos com cores suaves", escreveu o pintor futurista italiano Luigi Russolo a uma amiga.
Em 1928, Tarsila pintou aquela que se tornaria sua mais conhecida obra, "Abaporu". A tela, um presente para o seu então marido, foi entregue na data de aniversário de Oswald, 11 de janeiro, ainda sem nome. Extasiado com a beleza da tela, Oswald chamou seu amigo modernista Raul Bopp e, folheando um dicionário de Tupi de Tarsila, encontraram o nome que batizou a tela e que significa "o homem que come carne".
O quadro, mais próximo do surrealismo, é considerado um emblema do movimento antropofágico brasileiro. O casamento com Oswald terminaria em 1930, quando ela descobriu que ele a traía com Patrícia Galvão, a feminista Pagú. Depois, se casou com um médico que a iniciou nas hostes do Partido Comunista —Tarsila chegou a passar um mês na cadeia por ter feito uma viagem à Rússia.
Por último, Tarsila casou-se com um jovem crítico de arte, 20 anos mais novo que ela. Tarsila foi também escritora. Suas primeiras crônicas para os "Diários Associados" datam de 1936. À época, a pintora lutava para reaver a fazenda da família, hipotecada por causa do crack de 1929, e contra as dificuldades financeiras resultantes. Ela manteria a atividade por 20 anos. No fim da vida, acometida por um câncer e presa à uma cadeira de rodas por problemas na coluna, mantinha-se entretida estudando grego antigo e recitando poesias.
Morreu, por complicações do câncer, em 17 de janeiro de 1973 e foi enterrada de vestido branco, como era seu desejo. Em 1995, o colecionador argentino Eduardo Constantini arrematou, em leilão, a tela "Abaporu" por US$ 1,3 milhão, na Christie's, casa de leilões de Nova York (EUA). É até hoje o valor mais alto pago por uma obra de arte brasileira. Mário Raul de Morais Andrade nasceu em São Paulo, em 1893. Fez os seus primeiros estudos em sua cidade natal, formando-se em piano em 1917 pelo Conservatório Dramático e Musical de São Paulo. Ainda em 1917 estreou na vida literária com o volume de versos na linha parnasiana Há uma gota de sangue em cada poema. Tornou-se crítico de arte em vários jornais e revistas paulistas.
Em 1922, foi um dos organizadores da Semana de Arte Moderna. Naquele mesmo ano escreveu Paulicéia Desvairada, um dos principais livros do modernismo. Foi o primeiro a usar sistematicamente o verso livre no Brasil. De 1922 a 1945, tornou-se a figura mais completa e representativa das letras brasileiras. Musicista, dirigiu seus estudos para pesquisas de nacionalização da música brasileira. De 1928 a 1929 realizou várias viagens para o interior do país. Dedicou-se às críticas e às pesquisas folclóricas, principalmente musicais. Em 1928 escreveu, Ensaio sobre música brasileira e a rapsódia Macunaíma, herói sem caráter.
Em 1935, fundou, juntamente com Paulo Duarte, o Departamento Municipal de Cultura de São Paulo, órgão que exerceria larga influência na democratização da cultura e do qual foi o primeiro diretor. No ano seguinte, Mário e Paulo Duarte elaboraram um projeto de lei que dispunha sobre a criação do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, no âmbito do Ministério da Educação e Saúde. Em 1937, criou a Sociedade de Etnografia e Folclore de São Paulo; criou também os primeiros parques infantis e a discoteca pública de São Paulo. Organizou o Congresso de Língua Nacional Cantada, que fixou a pronúncia padrão usada no teatro dramático e no canto do Brasil.
Transferiu-se para o Rio de Janeiro em 1938, para dirigir o Instituto de Artes da Universidade do Distrito Federal e ocupar a cátedra de história e filosofia da arte. Em 1942, junto com outros intelectuais contrários ao regime ditatorial do Estado Novo, fundou a Associação Brasileira de Escritores (ABRE), entidade que lutou pela redemocratização do país.
De sua vasta obra, merecem destaque, além dos trabalhos já citados, A escrava que não é Isaura (1925), Amar, verbo intransitivo, (1927), Cultura musical (1936), Pequena história da música (1942) e O movimento modernista (1942).
Faleceu em São Paulo, em 1945. VIDA DO ESCRITOR FOI UM "VULCÃO DE COMPLICAÇÕES"
por José Geraldo Couto e Mario Cesar Carvalho
Mário de Andrade era um mistério. Ele próprio ajudou a construir essa imagem. "Eu sou trezentos... sou trazentos-e-cinquenta", escreveu no "Remate de Males" (1930). O verso até agora serviu para interpretar suas múltiplas atividades, de poeta a etnógrafo. Mas um exame mais detalhado de sua correspondência e de suas amizades revela que o homem era mais do que 350, às vezes era 351, como o próprio Mário corrigiu em carta à poeta mineira Henriqueta Lisboa: o 351° era o "indivíduo infame, diabólico, que eu carrego toda a vida comigo". Não foi a única vez que Mário se referiu a essa sina. A José Bento Ferraz, seu secretário particular entre 1934 e 1945, costumava dizer: "Há um lado hediondo no meu caráter". Aos 80 anos, José Bento diz: "Eu não acho que o Mário tenha algum lado hediondo em seu caráter".
Não se sabe por quê, mas foi esse o dogma que ficou na história do modernismo. Enquanto Oswald de Andrade era o devasso, o piadista, Mário era o "scholar", o erudito, o monumento moral, imagem que incomodava o próprio escritor: "Me vejo convertido a erudito respeitável e, o que é pior, respeitado. Isso me queima de vergonha", escreveu em 1942 ao jornalista e crítico Moacir Werneck de Castro.
De santo e erudito, Mário até tinha muito. Nascido numa família católica, foi congregado mariano, ia à missa todos os domingos até o final dos anos 20, carregava vela em procissão e cantava no coro da Igreja Santa Ifigênia, no centro de São Paulo. Mesmo se afastando da igreja, conservou-se cristão até a morte, em 1945. Sua erudição pode ser medida pela extensão e variedade de sua obra (58 livros, entre poesia, ficção, ensaio e correspondência) e pelo tamanho de sua biblioteca (17 mil volumes, principalmente de música, arte, literatura, etnologia e folclore).
Mas Mário não era só santo e erudito. Sob o clichê sacralizado se esconde um "vulcão de complicações", segundo autodefinição de 1925. Era vaidoso, sensual, gostava de tomar seus porres, experimentava drogas "com um interesse apaixonado" e dizia ter uma "espécie de pansexualismo". Só usava ternos de casimira inglesa ou linho branco S-120. Em casa andava de robe de seda (alguns desenhados por ele).
Mandava seu secretário comprar a loção francesa Rêve Rose para passar na careca, usava pó-de-arroz na face para atenuar o tom amulatado da pele, herança das avós materna e paterna, ambas mulatas. Porres e experiência com drogas Mário reservava principalmente para as viagens. No Carnaval de 1929, na sua segunda viagem ao Nordeste (a primeira foi entre 1927 e 1928), cheirou éter e cocaína "loucamente" com seus amigos de Recife, entre os quais o pintor Cícero Dias e o escritor Ascenso Ferreira. "Passei a noite sob efeitos reprovocados de coca e éter, uma luxúria até 6 da manhã", conta em "O Turista Aprendiz". Radicado em Paris desde 1937, Cícero Dias. 85, diz hoje que há um "certo exagero" sobre a cocaína: "Usava-se mais porre de éter".
Foi no Rio, onde viveu de julho de 1938 a fevereiro de 1941, trabalhando no Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, que Mário se "desmandou" na bebida, como diz seu secretário Bento. Foi a primeira e única vez que morou fora de São Paulo, de onde saiu depois de chefiar três anos o Departamento de Cultura. Os pileques de choque eram na Taberna da Glória, onde se reunia com Carlos Lacerda, Moacir Werneck de Castro, Murilo Miranda e Lúcio Rangel. Apesar de Mário dizer que chegou a perder três vezes a consciência, Maria Amélia Buarque de Holanda, 83, viúva do historiador Sérgio Buarque de Holanda, recorda que "ele bebia forte mas não era dos mais porristas". Quando Paris foi ocupada pelos alemães, em junho de 1940, Mário e Sérgio esvaziaram uma garrafa de uísque.
A pista sobre o Mário sensual foi dada pelo próprio: "Há também um outro elemento, delicado de tratar, mas que tem uma importância decisória em minha formação: a minha assombrosa, quase absurda - o Paulo Prado já chamou de 'monstruosa' - sensualidade", escreveu à musicóloga Oneyda Alvarenga em 1940. Essa sensualidade se dirigia a objetos (sobretudo livros e obras de arte), à natureza ("descobri que seria capaz de ter relações sexuais com uma árvore!", contou ao escritor Rosário Fusco em carta de 1934) e a seres humanos de ambos os sexos.
Aí, em torno de sexualidade de Mário de Andrade, esbarra-se no tabu dos tabus. Quase 50 anos depois da morte do escritor, um único libro aborda, embora timidamente, sua homossexualidade: "Mário de Andrade - Exílio no Rio", de Moacir Werneck de Castro. O autor parte das análises literárias de João Luiz Tafetá (no livro "Figuração da Intimidade — Imagens na Poesia de Mário de Andrade") e da correspondência do escritor para concluir que "na raiz do drama existencial de Mário de Andrade jaz a angústia da sexualidade reprimida e transformada em difusa pansexualidade".
Hoje com 78 anos, Werneck lembra que na sua roda de amigos não se suspeitava que Mário pudesse ser homossexual. "Supúnhamos que fosse casto ou que tivesse amores secretos. Se era ou não isso não afeta sua obra, nem seu caráter". A dúvida é tão antiga quanto o modernismo. Já em 1923, Mário comentava sua fama de "pederasta" em carta a Sérgio Miliet: "Já sabia da reputação. Não me surpreendeu. Será a celebridade que se aproxima? Eis-me elevado à turva e apetitosa dúvida que doira a reputação de Rimbaud, Verlaine, Shakespeare, Miguel Anjo, Da Vinci". Em 1929, quando rompe com o escritor Oswald de Andrade, a dúvida cresce mais ainda, impulsionada pelo que o ensaísta Antonio Candido chamou de "piadas sangrentas" de Oswald. Uma delas: Mário é "muito parecido pelas costas com Oscar Wilde".
A curiosidade é estimulada por um pedido de Mário: as cartas que recebeu, hoje trancadas em cofre no Instituto de Estudos Brasileiros da USP, só podem ser abertas em 25 de fevereiro de 1995, 50 anos após sua morte. Uma carta do próprio Mário ao poeta Manuel Bandeira também está vetada até 1995. O mistério está guardado na Fundação Casa de Rui Barbosa, no Rio. Só em 1990 Antonio Candido, que conviveu com os dois Andrades, tocou de forma mais direta no assunto: "O Mário de Andrade era um caso muito complicado, era um bissexual, provavelmente", afirmou em depoimento ao Museu da Imagem e do Som de São Paulo. "Os únicos casos concretos que a gente tem sobre a vida afetiva dele são casos com mulheres que a gente sabe quais foram. Ele tinha uma sensibilidade de homossexual, isto é fora de dúvida, vê-se pela obra dele".
Mário diz no poema "Girassol da Madrugada" que teve quatro "amores eternos": "O primeiro era a moça donzela,/ O segundo ...eclipse, boi que fala, cataclisma,/ O terceiro era a rica senhora,/ O quarto és tu...", O "tu" era R.G., a quem o poema é dedicado. Mário revelou seu nome completo a Manuel Bandeira, que teve o cuidado de suprimi-lo quando o publicou em 1958 as cartas que Mário lhe mandara.
Dos outros amores sabe-se que "a rica senhora" é Carolina Penteado da Silva Telles, filha de Olívia Guedes Penteado. Durante dez anos, de 1924 a 1934, Mário frequentou os saraus no casarão de Olívia e via Carolina quase semanalmente, casada com Gofredo Teixeira da Silva Telles. "Ele sempre foi muito cavalheiro, muito respeitoso, uma pessoa corretíssima", lembra Carolina hoje com 99 anos, "Só fui saber que eu era a paixão da vida dele quando a Tarsila me contou na missa de sétimo dia de Mário. Eu nunca soube de nada".
Tarsila, a pintora Tarsila do Amaral, foi outro amor platônico de Mário nos tempos heróicos do modernismo, época em que era casada com Oswald. O episódio Carolina ilustra como Mário era "um homem difícil, que só lentamente rompia suas barreiras defensivas", como escreveu o crítico Mário da Silva Brito. Embora sempre cercado de amigos, parentes e administradores, o próprio escritor parecia condenar-se a uma solidão sem remédio. Na última carta que escreveu à pintora Anita Malfatti, em 26 de julho de 1939, confessou: "Ninguém poderia chegar a gostar inteiramente de mim, porque com meu jeitão feiúdo e a forma pouco esperta e ácida do meu espírito não dou bem-estar a ninguém".
O represamento afetivo, não raro, virava tormenta. Foi no período que viveu no Rio que seus dilemas se intensificaram. Acima de tudo, Mário se atormentava com a distância da mãe, Maria Luísa, com quem morou até a morte: "Estou literalmente desesperado, não aguento mais esta vida do Rio, e ou acabo comigo ou não sei. Às vezes sinto que a única salvação é voltar pra S. Paulo de uma vez. Lá eu tenho de perto a imagem de minha mãe, que de longe não é suficientemente forte pra vencer meus desesperos", queixava-se a Paulo Duarte em 1939.
Havia também a Guerra. Embora nunca tenha ido à Europa (só saiu do Brasil uma vez, em 1927, quando foi ao Peru), lamentava a destruição de bens culturais e valores que prezava. Por tudo isso, Mário se dilacerava em, dúvidas: não sabia se devia se dedicar exclusivamente à ficção, à pesquisa mais erudita ou à participação direta na vida política (vivia-se a ditadura de Vargas).
Em 1942, quando já voltara a São Paulo, as dúvidas transformam-se em "mea culpa", uma espécie de autoflagelação intelectual. Na conferência sobre os 20 anos do modernismo, faz ataques ao movimento ("era nitidamente aristocrático") e considerava-se pessoalmente um fracassado: "Tendo deformado toda minha obra por um antiindividualismo dirigido e voluntarioso, toda a minha obra não é mais que um hiperindividualismo implacável. É melancólico chegar assim no crepúsculo sem contar com a solidariedade de si mesmo". Tinha 48 anos à época. Vivia se queixando de doenças e da falta de dinheiro.
O poeta Carlos Drummond de Andrade reuniu trechos de 114 cartas a vários destinatários nas quais Mário descreve seus males —úlcera, hemorróidas, sinusite, enxaqueca, dores nos rins, colite, gripes frequentes, estafas e depressões nervosas. Debochava das doenças, vivia prevendo que morreria aos 50 ou 55 anos e chegou a escrever a Paulo Duarte em 1942; "Estou me suicidando aos poucos". Morreu a 25 de fevereiro de 1945 de infarto, aos 51 anos. Dois anos antes, admitia "melancólico"
suas vaidades: "Sou bastante artista, pelo menos até o ponto de desejar essa besteira
inacreditável e inexplicável de continuar querido depois de cadáver, osso, pó filho da puta".
publicado na Folha de S. Paulo em 26 de setembro de 1993 Anita Malfatti nasceu em São Paulo em 1889.
Após iniciar-se na pintura com a mãe, foi para a Europa em 1910. Aí estudou na Academia Real de Belas-Artes de Berlim, teve aulas particulares e tomou contato com o expressionismo alemão. De volta ao Brasil em 1914, fez uma pequena exposição. Viajou em seguida para Nova Iorque, onde freqüentou a Art Students League e a Independent School of Art em 1915-16.
Em dezembro de 1917 realizou em São Paulo polêmica exposição, considerada a primeira mostra de arte moderna no Brasil. Em contraposição às fortes críticas de Monteiro Lobato, recebeu o apoio de Oswald de Andrade, Mario de Andrade e Menotti del Picchia, que saíram em sua defesa, bem como dos princípios da arte moderna. Em torno de seu nome formou-se o grupo de intelectuais e artistas que iria organizar a Semana de Arte Moderna de 1922, da qual participou, expondo 20 obras. Em 1923 seguiu para a França com bolsa de estudos do governo paulista e aí permaneceu até 1928.
Em 1951 participou da I Bienal de São Paulo. Doze anos depois, a direção da mostra reservou uma sala para a exposição de 45 trabalhos de sua autoria.
Faleceu em São Paulo, em 1964. Desde então sua obra vem sendo mostrada em inúmeras exposições, no Brasil e no exterior. Entre seus quadros mais famosos, destacam-se A estudante, Tropical, O homem amarelo e O japonês. Heitor Villa-Lobos nasceu no Rio de Janeiro, em 1887.
Considerado uma das figuras mais importantes da história da música no Brasil, aprendeu a tocar violoncelo aos seis anos de idade com o pai, músico amador. Foi também nessa época que conheceu a obra de Bach, que tanto o influenciaria no futuro. Mais tarde, residiu com a família no interior do Estado do Rio e de Minas Gerais, entrando em contato com as modas caipiras e tocadores de viola. De volta ao Rio de Janeiro, interessou-se pelos "chorões", músicos que tocavam em festas e durante o carnaval, levando-o a estudar violão.
Em 1905, começou a percorrer o Brasil, familiarizando-se com a temática da música popular - cantigas de viola, reisados, frevos. Durante anos recolheu e anotou mais de 1.000 temas folclóricos. Dez anos depois, fez sua estréia como compositor, apresentando-se numa série de concertos no Rio de Janeiro. Nessa época, enquanto compunha suas obras, sobrevivia tocando violoncelo nas orquestras dos teatros e cinemas cariocas. A modernidade de sua música provocou reações adversas nos jornais.
Em 1922, participou da Semana de Arte Moderna de São Paulo, apresentando no Teatro Municipal obras de sua autoria em primeira audição. A partir de 1922, seu trabalho revelou crescente afinamento com a temática nacionalista e modernista que presidiu a Semana. Já bastante conhecido no meio musical brasileiro, Villa-Lobos transferiu-se em 1923 para Paris, onde permaneceu um ano. Em 1927, retornou à capital francesa para organizar concertos e publicar trabalhos. A partir de então, ganhou prestígio internacional, apresentando suas composições em recitais e regendo orquestras nas principais capitais européias, causando forte impressão por suas ousadias musicais.
De volta ao Brasil em 1930, apresentou à Secretaria de Educação do Estado de São Paulo um projeto inovador de educação musical, que foi aceito pelas autoridades. Depois de dois anos de trabalho, transferiu-se para o Rio de Janeiro, a convite do secretário de Educação do Distrito Federal, Anísio Teixeira, com a missão de introduzir o ensino de música e canto coral nas escolas públicas. Foi nesses anos que iniciou a composição do que viria a ser as nove "Bachianas brasileiras".
Durante a ditadura do Estado Novo (1937-1945), organizou, com o apoio do presidente Getúlio Vargas, grandiosas concentrações orfeônicas que chegaram a reunir cerca de 40 mil escolares sob sua batuta. Nesses anos, suas peças eram empregadas na propaganda do regime. Em 1944, Villa-Lobos realizou uma turnê pelos Estados Unidos, como parte da chamada "política da boa vizinhança" praticada pelo presidente Franklin Roosevelt no contexto da Segunda Guerra Mundial.
Faleceu no Rio de Janeiro, em 1959, deixando cerca de 1.500 peças, nos mais diversos gêneros e para as mais diversas formações instrumentais e vocais. No ano seguinte, foi fundado, em sua homenagem, o Museu Villa-Lobos, no Rio de Janeiro. Sérgio Buarque de Holanda nasceu em São Paulo em 1902. Jornalista, sociólogo e historiador, formou-se em direito no Rio de Janeiro. Desde cedo publicou na imprensa estudos sociológicos, ensaios e críticas literárias. Participante do movimento modernista de 1922, fundou a revista Estética junto com Prudente de Morais Neto, em 1924. Ao longo da década de 20, ao lado de Prudente, tornaram-se amigos de Gilberto Freyre e, movidos pelo interesse comum pela música popular brasileira, travaram conhecimento com os compositores Patrício Teixeira, Donga e Pixinguinha.
Quando ocorreu a Revolução de 1930, Sérgio Buarque encontrava-se em Berlim como enviado especial dos Diários Associados à Alemanha, Polônia e Rússia. Foi durante sua estada na Alemanha que começou a interessar-se por história e ciências sociais. Ao regressar no ano seguinte, já trazia anotações sobre história do Brasil, que utilizou em sua obra Raízes do Brasil, publicada em 1936. Nesse mesmo ano, tornou-se professor de história do Brasil na Universidade do Distrito Federal. Entre 1937 e 1944, foi chefe da sessão de publicações do Instituto Nacional do Livro e diretor de divisão da Biblioteca Nacional até 1946. Também foi presidente da Associação Brasileira de Escritores.
Dentre as suas obras merecem ainda destaque Cobra de Vidro (1934) , Monções (1945) e Visão do Paraíso (1958).
Faleceu em São Paulo, em 1982. Plínio Salgado nasceu em São Bento do Sapucaí (SP), em 1895.
Jornalista, iniciou sua atividade na imprensa em 1916, em sua cidade natal, no semanário Correio de São B ento. Nessa época, dedicava-se ainda ao magistério e em suas leituras predominavam filósofos materialistas. Em 1918, iniciou-se na política participando da fundação do Partido Municipalista, que reunia líderes de municípios do Vale do Paraíba. Realizava, então, conferências em defesa da autonomia municipal.
Ainda em 1918, casado há pouco mais de um ano, morreu sua esposa, poucos dias após o nascimento de sua primeira filha. Abalado, voltou-se para a religião, dedicando-se à leitura dos pensadores católicos Raimundo Farias Brito e Jackson de Figueiredo.
Dois anos depois transferiu-se para São Paulo, empregando-se no Correio Paulistano, órgão oficial do Partido Republicano Paulista (PRP), onde travou amizade com Menotti del Picchia, o redator-chefe do jornal. Durante a década de 20, dedicou-se essencialmente às atividades literárias, adquirindo renome como escritor. A princípio, manteve posição cautelosa diante do movimento modernista, tendo participado discretamente da Semana de Arte Moderna, em 1922.
Em 1924, deixou o Correio Paulistano e empregou-se no escritório do advogado e empresário Alfredo Egídio de Souza Aranha, com quem manteria vínculos duradouros. Publicou em 1926 seu primeiro romance - O estrangeiro - obra conceituada nos meios modernistas. Logo em seguida, em companhia de Cassiano Ricardo, Menotti del Picchia e Cândido Mota Filho, alinhou-se ao movimento Verde-Amarelo, vertente nacionalista do modernismo. No ano seguinte, novamente com del Picchia e Cassiano Ricardo, lançou o movimento da Anta, no qual exaltava o indígena, particularmente o tupi, como o portador das nossas origens nacionais mais autênticas. Nesse mesmo ano, publicou Literatura e Política, obra em que expressava idéias nacionalistas de cunho fortemente antiliberal e agrarista, inspirada em Alberto Torres e Oliveira Viana.
Em 1928, elegeu-se deputado estadual, em São Paulo, pelo PRP. Em 1930, apoiou a candidatura situacionista de Júlio Prestes à presidência da República, contra o candidato da oposição, Getúlio Vargas. Em seguida, sem terminar seu mandato de deputado, viajou ao Oriente Médio e à Europa como preceptor do filho de Souza Aranha. Na Itália, impressionou-se com o fascismo e com Mussolini.
Regressou ao Brasil no dia 4 de outubro de 1930, exatamente um dia após o início da revolução que derrubaria Washington Luís. Escreveu, então, dois artigos no Correio Paulistano em defesa do governo. Com a vitória dos revolucionários, porém, logo passou a apoiar Vargas, tendo inclusive redigido o manifesto da Liga Revolucionária de São Paulo, organização liderada por Miguel Costa e João Alberto em apoio ao novo regime.
Em junho de 1931, tornou-se redator do jornal A Razão, recém-fundado por Souza Aranha na capital paulista. Em suas páginas, desenvolveu intensa campanha contrária à constitucionalização do país, a ponto da sede do jornal ser incendiada pouco antes da Revolução Constitucionalista de 1932. Em fevereiro, criou a Sociedade de Estudos Políticos (SEP), que reunia intelectuais simpáticos ao fascismo. Meses depois, divulgou o Manifesto de Outubro, no qual apresenta as diretrizes básicas de uma nova agremiação política - a Ação Integralista Brasileira (AIB).
Salgado sistematizou a Teoria do Estado Integral, e criou os uniformes, símbolos, costumes, hábitos e rituais dos participantes do movimento integralista. Tinham como bandeira um pano azul com um círculo branco no centro, no meio do círculo, havia a letra sigma superposta ao mapa do Brasil. Os integralistas foram apelidados pela população como "os camisas verdes", sua atitude em público chamava a atenção principalmente pela simbologia adotada ao encontrarem-se nas ruas. Um dos rituais dos integralistas era o cumprimento utilizando a palavra tupi Anauê, bradada a todo pulmão, com o braço esticado e mão espalmada, este cumprimento até hoje é feito pelos integralistas. A palavra, no vocábulo Tupi, servia de saudação para os indígenas. Significa: “Você é meu irmão” (Dicionário Montona). Havendo uma parada militar, os participantes do movimento marchavam como soldados. Em seus encontros e concentrações, os integralistas recebiam treinamento e instrução de ordem unida, além de executar (com algumas alterações) muitos dos rituais e simbologias das Forças Armadas. O integralismo ideologicamente não aceitava o capitalismo, defendia a propriedade privada, o resgate da cultura nacional, o moralismo, valorizava o nacionalismo, a prática cristã, o princípio da autoridade, o combate ao comunismo e ao liberalismo econômico. O projeto político do Integralismo propunha unificar, numa visão integral, as inúmeras visões fragmentadas do ser humano e da sociedade, ora analisados apenas pelos seus aspectos econômicos, ora pelos aspectos sociais, ora políticos, ora espirituais. A nação integralista se organizaria dentro de uma hierarquia de valores, na qual sobrepunha-se "o espiritual sobre o moral, o moral sobre o social, o social sobre o nacional e o nacional sobre o particular". Afirmava Plínio Salgado: "o Integralismo nada traz de novo, uma vez que é baseado na história política dos povos e nas verdades eternas do Evangelho". O Integralismo congregou uma grande diversidade de cidadãos brasileiros segundo as mais diferentes etnias. Nos Núcleos Integralistas de Blumenau, a maioria dos integralistas era da etnia alemã, exemplo típico repetido em quase todo o Estado de Santa Catarina. No Rio Grande do Sul, era também visível a participação de cidadãos oriundos da etnia italiana. Foi o primeiro movimento político no Brasil a ter em suas fileiras alas femininas, além da participação de negros, dada a característica da ideologia da AIB de exaltação da miscigenação racial brasileira. (João Cândido, marinheiro negro líder da Revolta da Chibata, era Integralista.)Juventude Integralista, Brasil, anos 30
O ideário da AIB inspirava-se nitidamente no fascismo italiano e em seus similares europeus. Valorizava, ainda, uma série de rituais e símbolos, como a utilização da expressão indígena Anauê como saudação, a letra grega sigma (S) e os uniformes verdes com os quais seus militantes desfilavam pelas ruas.
Passeata Integralista Em fevereiro de 1934, no I Congresso da AIB, em Vitória (ES), Plínio confirmou sua autoridade absoluta sobre a entidade e recebeu o título de "chefe nacional". Nos anos seguintes, a AIB conheceu significativo crescimento, promovendo grandes manifestações em vários pontos do país. Congresso Integralista em Blumenau, Santa Catarina, 1935
Em 1937, Plínio lançou sua candidatura à eleição presidencial marcada para janeiro do ano seguinte. Percebendo a intenção de Vargas de cancelar a eleição e continuar no poder, resolveu apoiar a opção golpista do presidente esperando fazer do integralismo a base doutrinária do novo regime. Reuniu-se, então, com líderes militares golpistas e com o próprio Vargas, que lhe teria prometido o Ministério da Educação no novo governo. Em novembro, retirou sua candidatura a presidente e, dias depois, aplaudiu a decretação do Estado Novo. Para sua surpresa, porém, Vargas decretou o fechamento da AIB, dando a ela o mesmo tratamento dispensado às demais organizações partidárias.cartaz Integralista, 1937 No ano seguinte, militantes integralistas tentaram, por duas vezes, nos meses de março e maio, promover levantes para depor Vargas. Essas tentativas fracassaram e, em ambas, Plínio negou ter tido qualquer participação. Permaneceu livre ainda por um ano, apesar de muitos integralistas terem sofrido perseguições imediatas. Em maio de 1939, foi finalmente preso e, um mês depois, enviado para um exílio de seis anos em Portugal. Nesse período, procurou obstinadamente reabilitar-se diante do governo brasileiro, a quem elogiou em diversos manifestos, inclusive quando da declaração de guerra do Brasil à Alemanha e Itália.
Voltou ao Brasil em 1945, com a redemocratização do país. Reformulou, então, a doutrina integralista e fundou o Partido de Representação Popular (PRP). Em 1955, lançou-se candidato à presidência da República, obtendo 714 mil votos (8% do total). Em seguida, apoiou a posse do presidente eleito Juscelino Kubitscheck, contestada pela UDN, e foi nomeado para a direção do Instituto Nacional de Imigração e Colonização.
Em 1958, elegeu-se deputado federal pelo Paraná. Reelegeu-se em 1962, desta vez por São Paulo. Em 1964, foi um dos oradores da Marcha da Família com Deus pela Liberdade, em São Paulo, contra o presidente João Goulart. Apoiou o golpe militar daquele ano e, com a extinção dos antigos partidos, ingressou na Aliança Renovadora Nacional (Arena), criada para auxiliar na sustentação ao novo regime. Por essa legenda obteve mais dois mandatos na Câmara Federal, em 1966 e 1970.
Morreu em São Paulo, em 1975.
Cassiano Ricardo Cassiano Ricardo Leite nasceu em São José dos Campos (SP), em 1895.
Poeta, crítico, ensaísta, historiador, jornalista e advogado, no movimento modernista paulista, integrou a vertente conservadora dos verde-amarelos, ao lado de Menotti del Picchia, Plínio Salgado, Cândido Motta Filho e Raul Bopp, entre outros. Durante o período em que participou deste grupo, dirigiu a revista Novíssima. Em 1926, publicou Borrões de verde amarelo e, em 1928, Martim Cererê, no qual reconta a história do Brasil a partir de uma perspectiva mítica. Após publicar Deixa Estar Jacaré em 1931, dedicou-se às atividades políticas.
Durante a Revolução Constitucionalista de São Paulo, deflagrada contra o governo federal em 1932, Cassiano Ricardo fez discursos radiofônicos na série "Em defesa da revolução", baseados nos poemas de Martim Cererê. Nesta ocasião foi nomeado secretário do governo Pedro de Toledo. Em agosto de 1936 - ao lado de Menotti del Picchia, Paulo Setúbal, Guilherme de Almeida, Valdomiro Siqueira, Monteiro Lobato, Paulo Prado e Mário de Andrade -, fundou o grupo Bandeira. O grupo - que recebeu o apoio da alta oficialidade, incluindo nomes como os de Góes Monteiro e Juraci Magalhães - propunha-se a salvar a democracia brasileira, combatendo tanto o comunismo como o liberalismo. "A vestir uma camisa verde ou vermelha, preferimos ficar sem camisa", foi uma espécie de slogan do movimento. Essas idéias foram difundidas por Cassiano Ricardo em O Brasil no original, escrito em 1936.
Eleito em 1937 para a Academia Brasileira de Letras, durante o Estado Novo (1937-1945) ocupou diversos postos importantes, dirigindo o Departamento Estadual de Imprensa e Propaganda de São Paulo, o departamento cultural da Rádio Nacional e o jornal A Manhã, porta-voz governamental. Data deste período a publicação da Marcha para o Oeste (1940), uma versão mítica do Estado Nacional, em que Cassiano faz uma analogia entre a organização das bandeiras (século XVI) e a do Estado Novo.
Faleceu no Rio de Janeiro, em 1974. Modernidade Carioca
Os artistas e intelectuais cariocas dos anos 20 reagiam à idéia do modernismo como movimento cultural organizado. Manuel Bandeira, um dos expoentes da poesia modernista, sempre declarou que seus escritos haviam-se inspirado mais na vivência das rodas boêmias cariocas do que em discussões intelectuais.
No Rio de Janeiro, o intercâmbio entre os artistas e intelectuais e as camadas populares ocorria de fato muito mais no espaço informal das ruas, dos cafés, das festas de igreja, como a da Penha, das casas de santo, como a da Tia Ciata, e dos carnavais. Desde o início do século, e mais acentuadamente em meados da década de 1910, vários artistas e intelectuais estrangeiros, como Gustavo D'Allara, Paul Claudel (embaixador da França no Brasil), Darius Millaud e Blaise Cendrars passaram a visitar o Brasil no intuito de conhecer sua literatura, pintura, folclore e música popular. Millaud estabeleceu relações pessoais com Pixinguinha e Donga, inspirando-se em sua música para montar musicais em Paris. Esse "diálogo cultural" que caracterizava a estética moderna também mobilizou alguns artistas e intelectuais cariocas como Afonso Arinos, Emílio de Menezes, Bastos Tigre e Hermes Fontes, que freqüentavam a república dos compositores populares e os cafés da Lapa.Largo da Lapa, Rio de Janeiro Fora das rodas boêmias, Graça Aranha, com sua obra A estética da vida (1921), tornou-se o "paladino" do modernismo e foi convidado a fazer a conferência de abertura da Semana de Arte Moderna de São Paulo. Sérgio Buarque de Holanda e Prudente de Morais Neto, que fundaram no Rio, em 1924, a revista Estética, compunham com Ronald de Carvalho e Renato de Almeida um grupo de intelectuais sintonizados com o movimento modernista paulista.
Manuel de Souza Carneiro Bandeira Filho nasceu em Recife, em 1886. Ingressou na Escola Politécnica de São Paulo em 1903, iniciando o curso de engenheiro-arquiteto, que não concluiu por motivo de saúde.
Colaborador das seções literárias de jornais e revistas cariocas e paulistas, obteve grande repercussão na Semana de Arte Moderna de 1922, em São Paulo, com o seu poema "Os sapos", publicado em Carnaval (1919). Apesar de não ter participado diretamente do evento, Bandeira travou conhecimento com Mário e Oswald de Andrade, Paulo Prado, Yan de Almeida Prado, Menotti Del Picchia, Luís Aranha e Rubem Borba de Moraes. Também entrou em contato com o grupo dos intelectuais mineiros, representado por Carlos Drummond de Andrade e Martins de Almeida. No Rio de Janeiro, criou seu próprio círculo intelectual, do qual faziam parte Jaime Ovalle, Rodrigo de Mello Franco, Sérgio Buarque de Holanda, Prudente de Moraes Neto e, mais tarde, Gilberto Freyre.
Em 1937, recebeu o prêmio Felipe de Oliveira pelo conjunto de sua obra literária, tornando-se, no ano seguinte, professor catedrático de literatura universal do Colégio Pedro II. Membro consultivo, ainda em 1938, da diretoria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, ingressou, em 1940, na Academia Brasileira de Letras. Em 1943, deixou o Pedro II e o Patrimônio Histórico, para ocupar a cátedra de literatura hispano-americana da Faculdade de Filosofia do Rio de Janeiro, onde permaneceria até 1956. Em 1946, foi agraciado com o Prêmio Nacional de Literatura, do Instituto Brasileiro de Educação e Cultura.
Na sua vasta produção literária, merecem menção Ritmo dissoluto (1924), Libertinagem (1930), Estrela da manhã (1936) e Mafuá do Malungo (1948), além das diversas antologias poéticas publicadas ao longo de sua vida, entre as quais Poesias Escolhidas (1937 e 1948), Antologia Poética (1961), Estrela da Vida Inteira (1965).
Faleceu no Rio de Janeiro, em 1968. José Pereira da Graça Aranha nasceu em 21 de junho de 1868, em São Luís, no Maranhão, filho do jornalista Temístocles da Silva Maciel Aranha e de Maria da Glória da Graça.
De família rica e culta, com apenas 13 anos ele já havia terminado os estudos primário e secundário e foi para o Recife estudar direito. Lá, seria aluno de Tobias Barreto, uma das mais fortes influências de sua vida. Para Graça Aranha, Tobias Barreto foi o maior dos brasileiros.
Formou-se em 1886 e viajou para o sul do país, onde se dedicou à advocacia, ao magistério e à magistratura. Foi como juiz municipal em Porto do Cachoeiro, no Espírito Santo, em 1890, que colheu material para seu futuro romance "Canaã", publicado com grande sucesso editorial em 1902.
A cidade possuía uma comunidade alemã significativa e Aranha fez parte do julgamento de uma jovem imigrante que era acusada do assassinato do filho recém nascido. No romance, a jovem seria materializada como Maria de Canaã, e o assassinato do filho simbolizado na cena em que ela dá à luz no meio do mato e vê o bebê ser devorado por porcos selvagens.
Em "Canaã", Graça Aranha expõe, ainda, a vida do imigrante, na luta para se adaptar e se fixar em terras brasileiras. Denuncia as extorsões praticadas pelos poderosos, os preconceitos e o racismo. Por essas características e por seu valor documental, o romance se destaca como o marco inicial do Pré-Modernismo, fase da literatura brasileira cuja principal proposta é a "redescoberta do Brasil" por meio da denúncia da realidade brasileira.
Antes de ter lançado Canaã, Aranha entrou para a recém-fundada Academia Brasileira de Letras, em 1897, convidado por Machado de Assis, Joaquim Nabuco e Lúcio de Mendonça, como um de seus 40 fundadores. A ABL só entraria em funcionamento, no entanto, no ano seguinte.
Em 1900, entrou para o Itamarati e seguiu carreira diplomática por 20 anos. Nesse período, fora do Brasil, em missões diplomáticas por diversos países, acompanharia os rumos da arte moderna. Depois de se aposentar como diplomata, regressou ao Brasil, em 1921.
Culturalmente, 1921 significou, para o Brasil, a gestação da Semana de Arte Moderna, que aconteceria no ano seguinte. Um dos eventos marcantes é a exposição "Fantoches da Meia-Noite", que reuniu desenhos do pintor carioca Di Cavalcanti na editora O Leitor, em São Paulo. Durante a exposição, Di Cavalcanti comentou com Graça Aranha (única adesão da geração anterior ao futuro grupo modernista) que seria interessante realizar uma mostra com trabalhos dos artistas da época. A idéia era fazer uma semana de "escândalos literários e artísticos". A sugestão de Di Cavalcanti atraiu Aranha, que apresentou o artista plástico a Paulo Prado, membro da aristocracia cafeeira paulista. Prado foi um dos promotores da Semana de 22, que revelou a existência de um pensamento artístico ao mesmo tempo sintonizado com as vanguardas européias e preocupado em encontrar uma identidade para a arte produzida no país. Graça Aranha ficou encarregado de inaugurar a Semana de Arte Moderna com a conferência "A Emoção Estética na Arte Moderna".
Iniciou-se, então, uma fase agitada nos círculos literários do país.
Por causa desse infatigável trabalho cultural, Graça Aranha é considerado um dos chefes do movimento renovador de nossa literatura, fato que vai acentuar-se com a conferência "O Espírito Moderno", lida na Academia Brasileira de Letras, em 19 de junho de 1924, na qual o orador declarou: "A fundação da Academia foi um equívoco e foi um erro". Estava rompida a ligação do escritor com a ABL.
Graça Aranha escreveu também a peça de teatro "Malazarte" (1911), o romance "A Viagem Maravilhosa" (1929) e ensaios, entre os quais "A Estética da Vida "(1920), "Correspondência de Machado de Assis e Joaquim Nabuco" (1923), "Futurismo. Manifesto de Marinetti e Seus Companheiros" (1926).
Morreu no Rio de Janeiro, em 26 de janeiro de 1931, deixando incompleta a autobiografia "O Meu Próprio Romance".
Emiliano Augusto Cavalcanti de Albuquerque nasceu no Rio de Janeiro, em 6 de setembro de 1897. Começou sua carreira artística em 1914, quando publicou ilustrações na revista "Fon-Fon". Mudou-se para São Paulo, em 1917, para concluir seu curso de Direito iniciado no Rio de Janeiro. Foi em São Paulo que Di Cavalcanti realizou sua primeira mostra individual. Participou e foi um dos idealizadores da Semana de Arte Moderna de 22. Morou em Paris (França) entre 1922 e 1925 e conviveu com artistas como Léger, Matisse e Picasso.
Retornou ao Brasil em 1925 e passou a colaborar para revistas. Durante a década de 40, colaborou também com os jornais do Grupo Folha com as colunas "Informações da Noite" e "Artes Plásticas: Resenha Semanal". Na 1ª Bienal de São Paulo, em 1951, Di Cavalcanti expôs como convidado especial. Já na 2ª Bienal, recebeu, ao lado de Alfredo Volpi, o prêmio de melhor pintor nacional. Teve uma sala especial na 1ª Bienal Interamericana de Arte, no México, em 1960, e nesta mesma Bienal foi premiado com a Medalha de Ouro.
Di foi caricaturista, poeta, memorialista, desenhista, gravador, designer, muralista, grande pintor social e um trabalhador obstinado. Também era um grande contador de histórias e um emérito boêmio. Esse paradoxo se reflete em sua arte com sua representação da sensualidade, principalmente a sensualidade da mulata brasileira e, por outro lado, o constante uso das fortes temáticas sociais. Essa mistura de sentimentos dá a sua arte a representação de um substrato de alegria que é carregado de tristeza e tem, para Di Cavalcanti, a feição do caráter tipicamente brasileiro. Alunas:Antonia Cristina n°:04 Leidiana Silva n°:23 Leidiane Almaida n°:24

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